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Desvendando as Influenciadoras do Piauí: Histórias, Lucratividade e Tendências de Mercado

Publicado em: 13/03/2025 09:54 - Fonte: Boletim Brio

Há quem enriqueceu ganhando R$20 mil por dia divulgando “jogos do tigrinho”, há quem se profissionalizou e tem espaço consolidado na publicidade e há quem faça permuta de pizza, de aluguel de apartamento para morar e de carro. No centro dessas histórias: as influenciadoras do Piauí. A Ápice ouviu profissionais da comunicação que trabalham nos bastidores, acompanham as contratações, conhecem os lucros, as polêmicas e desafios desse mercado no estado. A seguir, uma planilha dos influencers piauienses? Não, um panorama atualizado.

“Na época do alto pico do ‘tigrinho’, quantas influenciadores não saíram do Piauí para ir a Dubai, Miami, para a China, tudo de permuta? O chinês dá uma viagem de 15 dias para vários pontos do mundo. E a função que a influenciadora tinha era só divulgar o link. Eu tenho uma amiga minha que eu nunca vou esquecer na minha vida, ela inclusive estava aqui em casa quando recebeu uma ligação para ir a Dubai. Ela falou assim: ‘amigo, eu não vou para Dubai porque eu já abusei’. Será que um dia eu vou falar isso na minha vida?(risos). Tem gente que chegou a ir três vezes para Dubai num ano”, relatou à Ápice uma fonte que solicitou sigilo.

O assessor de comunicação Caíque Souvana – Foto: Reprodução/Instagram
O assessor de comunicação Caíque Souvana – Foto: Reprodução/Instagram

 

Segundo o assessor de comunicação e produtor piauiense, que trabalha com influenciadores e famosos há oito anos, Caique Souvana, existe um antes e um depois do mercado de influência digital no Piauí a partir dos investimentos dos jogos de apostas online. Caíque Souvana aponta que cerca de 95% dos grandes nomes atrelados à influência digital migraram para as publicidades de sites de jogos online.

“Teve influenciadores que começaram a ganhar R$15 mil, R$20 mil em um dia para postar um link no Instagram. Com o avanço das plataformas online, não compensava mais você ir numa marca, receber R$600 num provador, sendo que em casa você recebe R$6 mil por um link. Então, como essa cultura do tigrinho foi se fortalecendo no Piauí, foi diminuindo a quantidade de publicidade e de reclamação sobre as entregas [dos influenciadores para as marcas] porque não tinha mais influenciador fazendo”, cita o assessor de comunicação.

 

Caíque Souvana também destaca que a partir disso surgiu ainda mais demandas de publicidades para atender o mercado publicitário tradicional. “Então, quando o mercado abre esse buraco de nomes, outros nomes que não eram até então famosos, ou não tinham um posicionamento para fazer aquilo ali, começaram a ter espaço, ocupando os espaços que tinham sido deixados por esse pessoal que migrou para divulgar o tigrinho. É gente que deixou de faturar no mês R$4, R$5 mil para faturar no mesmo mês R$40 mil, R$50 mil. Tipo assim, muito dinheiro. Então não compensava mais fazer essas publicidades de novo”, revela Caíque Souvana.

COMO REALMENTE GANHAR DINHEIRO

A percepção de autoridade para uma influenciadora diante das marcas assemelha-se a outras profissões e a lógica do mercado liberal tradicional. O que o seu nome significa no mercado? Com quem você fala em termos de público qualificado? Qual seu índice de conversão de venda? De entrega? E de credibilidade? São itens balizadores que associados ao fator tempo fortalece a marca pessoal e a capacidade de fazer negócios cada vez mais lucrativos e diversos.

“A maioria das influenciadoras que hoje no Piauí têm muito dinheiro e vivem integralmente daquela renda do seu Instagram, das suas redes sociais em modo geral, elas mais que sabem fazer conteúdo. Elas souberam agregar o nome delas a outras coisas que deram dinheiro. Então, lançaram coleção de óculos, lançaram coleção de roupa, lançaram coleção de linha fitness, fizeram collab com a academia, fizeram ações que sempre envolviam o nome atrelado a um produto, fizeram campanhas a nível nacional. Associaram não somente o nome, mas se associaram de fato a serem sócias de grandes empresas quando foram lançadas coleções”, afirma Caíque Souvana.

QUANTO O MERCADO PAGA


“Esses valores variam muito. Depende da quantidade de dias que a campanha vai ficar no ar, depende de quantas mídias vão rodar, da quantidade de posts que vão ser contratados, seja vídeo, stories. Por exemplo, quero quatro feeds, dez stories e a produção de conteúdo é por conta do influenciador. Então, o influenciador vai fazer um orçamento para alugar câmera de vídeo, câmera de foto, storymaker, redator, enfim. Geralmente, o alto clero de Teresina cobra entre R$5 mil e R$12 mil. Isso em cima de uma campanha de 20 dias, 25 dias, por marca”, informa Caíque Souvana.

Ápice conversou com agenciadores das influenciadoras e ouviu que as “microinfluenciadoras”, que trabalham com divulgação de marcas tradicionais, faturam entre R$5mil e R$8 mil/mês. Já as mais procuradas e com mais tempo de mercado podem ter uma média de lucro de cerca de R$50 mil/mês. “Existem trabalhos que uma influenciadora vai cobrar R$800 para fazer e uma outra vai cobrar R$5 mil”, afirmou um profissional experiente de agência que preferiu não se identificar.

MESMA ESTRATÉGIA DA XUXA

O jornalista e estrategista criativo, Yuri Ribeiro, que trabalha no assessoramento de influencers desde 2014 no Piauí e em São Paulo, aponta que o mais comum entre os grandes criadores de conteúdo são contratos por período.

“Têm influenciadores que criam todo o conteúdo e têm outros conteúdos que as marcas mandam o briefing. Existe o formato também de ser fechado por campanha ou por período [o contrato], que é o que é mais comum desses grandes influenciadores. Então a marca fecha seis meses, um ano. A marca e o influenciador entendem que a associação entre marca e produto precisa ser maturado”, conta.

O jornalista e estrategista criativo Yuri Ribeiro – Foto: Reprodução/Instagram

Os princípios do Marketing como repetição e exposição do vínculo entre o criador de conteúdo e o produto é essencial para gerar confiança na audiência, de modo semelhante ao mercado publicitário que construiu cases de sucesso por décadas na televisão brasileira.

“Antigamente na TV a gente associava muito o Monange [linha de hidratante] e a Xuxa. Mas o que a gente estava vendo o tempo todo é a propaganda da Xuxa com o Monange. Para associar uma marca com um influenciador, ele tem que estar usando o tempo todo. Isso é coisa de, sei lá, uma construção de três, seis meses para eu entender que aquela pessoa realmente usa esse produto porque toda hora ela está postando”, frisa Yuri Ribeiro.

 

NÚMERO DE SEGUIDORES IMPORTAM ATÉ QUE PONTO?

Não é difícil comprar seguidores. Vários sites na internet oferecem esse serviço. São os famosos “árabes” como muitos falam e que surgem “do nada” nos perfis. Alcance e audiência são essenciais, mas especialistas apontam que esse é só um entre os muitos fatores de construção de relevância. Não é determinante.

“No final das contas o objetivo de todo mundo é a venda. Então a venda não vai acontecer somente pelo alcance, mas sim pela conexão real. As marcas antigamente, sim, buscavam os influenciadores que chamam números e isso fazia com que esse movimento fosse recorrente das pessoas comprarem seguidores. Só que no final das contas não funciona. Porque não são números em reais, não são conexões reais. E eu não consigo vender porque eu não estou conectado com o público real. Então as marcas já entendem isso hoje”, relata o jornalista Yuri Ribeiro.

PERMUTA PARA NÃO PASSAR FOME

Caique Souvana relembra que quando era produtor de televisão há oito anos, em Teresina, começou a fazer permutas de almoço e jantar para não passar fome. “Todo esse processo de relacionamento com os influenciadores e com as marcas, eu não sabia nem o que era. Hoje, eu vivo disso. Há oito anos, eu não tinha noção. Começou porque eu só queria almoçar e jantar. Tinha uma época que eu cansei de passar fome. Eu marcava entrevistas para a TV que eu trabalhava nesses horários e ganhávamos a refeição”, rememora.

“A permuta mais inusitada que eu já vi, eu vou dizer: eu conheço influenciadores que já ganharam mês de aluguel, contrato de empresa de aluguel de carro, um mês com carro que não é seu, pizza é muito comum, parceria com uma imobiliária, conheço influenciadores que já ganharam, Macbook [notebook da Apple]. IPhone é bom, iPhone é só o que tem”, menciona o assessor de comunicação.

PERFIS COM MAIOR ALCANCE E INFLUÊNCIA NO PIAUÍ
Gabi Pinho – empresária, influenciadora de estilo de vida, moda, fitness e maternidade.
Fernanda Aguiar – engenheira e ex-atleta de fisiculturismo.
Bob O Guerreiro – humorista, cantor e youtuber.
Thaisa Costa – empresária e maquiadora profissional.
Oficial Forró das Antigas (Brunno Luz – de Picos) – advogado e estudante de Medicina.
Rainha Matos (Andreia Matos) – influenciadora e estudante de Jornalismo.

Fernandin OIG – presidente e fundador da OIG
Erlan Bastos – apresentador e colunista do Portal Em Off
Matheus Zanatta – delegado da Polícia Civil
Turma da Valzinha – grupo de criadores de conteúdo de entretenimento
Elana Valenária – ex-BBB e atriz

(Lista assinada pelo assessor e produtor Caíque Souvana – que avisa que não listou numa ordem de quem tem mais influência)

 

Influenciadores piauienses – Foto: Reprodução/ Instagram

 

ASSESSORAMENTO DE CARREIRA
A coluna conversou com a jornalista e empresária Maria Tereza Azevedo, da agência de influenciadores Fora do Papel. O contato entre as marcas e as influencers frequentemente é intermediado por agências de marketing e publicidade que atendem às empresas e contratam as criadoras de conteúdo para fazer a publicidade das campanhas e produtos. E também há, como no caso da Fora do Papel, agências especializadas em pulverizar as influenciadoras, por meio do assessoramento de carreira.

A jornalista e empresária Maria Tereza Azevedo – Foto: Boletim Brio

“A gente bate na porta de tudo que a gente acha que faz sentido para apresentá-las. Porque eu não posso achar que todo mundo conhece. Eu não posso. Então a gente tem que ter a humildade de bater em portas de marcas que a gente acha que tem tudo a ver. Nós somos responsáveis por agenciar algumas influenciadoras. E através disso a gente cria, ajuda a criar o conteúdo, que tipo de narrativa é melhor, entende a marca, porque as entregas elas precisam ser muito especiais, no que faz sentido, um cenário que vai chamar a atenção”, explicou a empresária Maria Tereza Azevedo.

Questionada se a agência tem uma planilha secreta para o Piauí, ela negou: “[Risos] Não, a gente tem uma planilha super secreta e maravilhosa, porque aqui a gente tem mais de 400 nomes de influenciadores em que a gente olha, que a gente abastece. A gente adora ver novos. Nós não somos, ‘ah, existe esse grupinho de 10 e sempre vão eles'”, cita.

MARCAS ANSIOSAS

“Quando a marca vem, a marca vem altamente ansiosa. E ela vem muitas vezes muito feliz por ela está conseguindo fazer aquele investimento daquela influenciadora. Ela cria aquela expectativa. Então assim, para a influenciadora que está ali todo dia, todo dia é uma responsabilidade de entrega. Porque ela tá ali mexendo com o emocional. O empreendedor, ele investe muito no produto. No trabalho. Então ele espera muito, ele fica ansioso por aquela postagem. Ele vibra também por aquela postagem”, enfatiza Maria Tereza Azevedo.

Para ela, o futuro ainda pode ser palco de crescimento para quem souber criar conexões. “Quem estiver atento e souber conectar, sempre vai estar em alta. Vamos entender que 100 mil seguidores é incrivelmente maravilhoso aqui no Piauí, mas nós conhecemos influenciadoras, vamos dizer, com10 mil seguidores, 8 mil seguidores, que faturam quatro dígitos, né? Então, assim, tudo depende da entrega”, conclui a empresária.

O QUE VEM POR AÍ

A coluna conversou com a professora da Universidade Estadual do Piauí e mestra em Comunicação, Ruthy Costa, para entender o horizonte que se forma pelo viés dos processos comunicacionais e do consumo de conteúdo. Para onde caminha-se? Seria este mercado uma tendência que se mantém numa crescente ou uma onda que já atingiu seu ápice? Para a especialista, essas são as apostas do que vem por aí:

  • A consolidação de micro e nano influenciadores, com forte impacto em nichos e comunidades específicas.
  • O uso cada vez mais sofisticado de dados e inteligência artificial para segmentação e produção de conteúdo.
  • A crescente importância da curadoria de informação, à medida que a sociedade se preocupa mais com desinformação e ética digital.
  • A possível regulamentação e padronização das relações entre marcas e criadores de conteúdo.

 

A professora Ruthy Costa – Foto: Arquivo Pessoal

A influência digital hoje se sustenta em três pilares principais: identificação, relevância e recompensas sociais.

“A atenção do público é capturada por conteúdos que atendem a demandas emocionais, informacionais ou de entretenimento. Quem consegue equilibrar esses elementos, adaptando-se às mudanças dos algoritmos e do comportamento da audiência, mantém seu espaço. A roda da influência gira porque o consumo de conteúdo digital está vinculado ao desejo de interação e aprovação social. No futuro, a atenção das pessoas deve ser disputada não só entre influenciadores humanos, mas também entre criadores de conteúdo baseados em IA, o que levanta questões éticas e desafios sobre autenticidade e impacto na sociedade”, finaliza a mestra em Comunicação.

 

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