O cenário político e judiciário foi agitado nesta quinta-feira (9) com o inesperado anúncio do ministro Luís Roberto Barroso de que deixará o Supremo Tribunal Federal (STF), antecipando sua aposentadoria em quase oito anos. A decisão, tomada sem relação com a conjuntura política, põe fim a uma influente trajetória de mais de 12 anos na mais alta Corte do país e abre imediatamente a corrida por sua sucessão.
Em um discurso emocionado, marcado por pausas e aplausos de pé dos colegas, o ministro de 67 anos afirmou que é hora de buscar novos caminhos. "Não tenho apego ao poder e gostaria de viver a vida que me resta sem as responsabilidades do cargo. Os sacrifícios e os ônus da nossa profissão acabam se transferindo aos familiares e às pessoas queridas", declarou Barroso. Ele ressaltou que a decisão foi "longamente amadurecida" e que havia comunicado sua intenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva há cerca de dois anos.
"Sinto que agora é hora de seguir outros rumos... com mais literatura e poesia. Não carrego arrependimentos." - Ministro Luís Roberto Barroso
Indicado em 2013 pela então presidente Dilma Rousseff, Barroso consolidou-se como um dos votos mais influentes e de perfil liberal/progressista do STF. Sua atuação foi decisiva em temas de grande impacto social e político. Ele foi relator de ações cruciais, como as que garantiram o transporte público gratuito nas eleições de 2023, suspenderam despejos durante a pandemia e trataram da limitação do foro privilegiado para autoridades públicas.
Doutor por Yale e pós-doutor por Harvard, o ministro presidiu a Corte entre setembro de 2023 e setembro de 2025. Durante sua gestão, o tribunal conduziu os julgamentos que resultaram na condenação de envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Corrida Sucessória Aquece Bastidores
Com a saída de Barroso — que completaria 75 anos, idade da aposentadoria compulsória, apenas em 2033 —, o governo Lula ganha a oportunidade de fazer uma nova indicação para a Corte.
A vaga já movimenta intensas articulações no Judiciário e no Palácio do Planalto. O nome mais cotado é o do Advogado-Geral da União (AGU), Jorge Messias, um técnico de confiança e forte proximidade com o presidente Lula. Outros nomes que circulam nos bastidores incluem o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinícius Carvalho.
A escolha, que deverá ser estratégica visando o equilíbrio político de olho nas eleições de 2026, caberá a Lula, e o indicado deverá passar por sabatina e aprovação do Senado Federal. Barroso deve formalizar sua saída após um "retiro espiritual" planejado ainda para este mês.